ARTIGO | A deficiência é uma questão de tempo

“Cada um de nós um dia será deficiente”. Esta é uma verdade fundamental que provoca, neste mês de setembro, que se discute a inclusão de pessoas com deficiência, uma reflexão séria e urgente. Seja devido aos acidentes constantes que deixam muitos feridos e mutilados, por doenças ou até mesmo devido a idade. A mobilidade tende a ficar reduzida ou impossibilitada pelos meios adotados e pelo estilo de vida na Grande Vitória. Por isso a deficiência é uma questão de tempo.

Para o filósofo espanhol Francesqui Aragall especialista em design, que defende esta tese, precisamos investir mais em sustentabilidade, favorecer os pedestres para que ganhem espaço e reduzir o uso de carros. E quando se faz tudo isso, quando se coloca em prática uma cidade para as pessoas e inclusiva, ela se torna ativa e todos ganham, até o setor econômico acaba sendo favorecido.

Mas para isso é preciso que todo mundo seja incluído, “os idosos, as pessoas com limitações, indivíduos de gêneros diversos, crianças, pessoas adultas”, pois a cidade tem que ser para todos. Ela deve acolher a todos por meio dos seus produtos, serviços e edifícios. Nossas cidades não podem ser feitas só para pessoas ditas “normais”.

Contudo, hoje não vemos a pessoa com deficiência ocupando o seu lugar em nossas cidades. E até estranhamos quando isso acontece. Só vemos a deficiência no individuo; mas ela está no meio social que vivemos. E entre nós a ideia de deficiência está associada com alguém doente ou fragilizado, com a ausência de um membro, de uma função ou, ainda, de uma limitação intelectual ou mental.

Nesta forma de ver e entender o outro a pessoa com deficiência se torna invisível enquanto individuo que habita a cidade. A produção acelerada, o resultado rápido, os roncos dos motores, a velocidade e as passadas largas de quem tem pressa de chegar, revela uma cidade que não é para todos. Os lentos não cabem neste lugar. Ela produz a deficiência e ao mesmo tempo esconde aqueles que deveriam ser vistos.

Mas se todos nós seremos deficientes um dia, a deficiência passa a ser uma característica que define nossa identidade. Somos pessoas em potência de se tornar deficientes. Podemos dizer que a deficiência, olhada por este ponto de vista, é algo que faz parte de uma dada normalidade. Logo os lugares e espaços de convivência, devem ser feitos para atender esta normalidade chamada deficiência, o que só poderá ser inclusiva e, portanto, para todos.

Paulo Brandão

Bacharel em Filosofia

Presidente do Conselho das Pessoas com Deficiência do Município de Viana

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