Palestras do "Não Cale" alertam sobre pornografia infantil e exploração sexual de crianças e adolescentes

Iniciando a tarde de palestras do Seminário "Não Cale", o psicólogo clínico e psicoterapeuta de crianças, adolescentes e família, o doutor Ivan Capelatto, discorreu em seu painel o paradoxo existente na questão do trabalho infantil, passando também por conceitos científicos. A apresentação foi intitulada de “O que é o desenvolvimento normal de uma criança e quais danos acontecem quando interrompido”, e trazia um ensaio sobre o abandono, a ausência de afeto e o trabalho infantil.

“O que eu tenho proposto aos meus amigos do Tribunal Superior do Trabalho (TST), de alguns Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs), é que a gente comece a acudir aquilo que dá origem a tudo isso que nós estamos estudando. Aquilo que dá origem ao crime, aquilo que dá origem a busca por trabalho infantil (...) que é a família; que é a gente começar a ajudar a família, essas mães... Ajudar as pessoas a entenderem que elas precisam cuidar”, disse Capelatto ao fim da palestra. Em seguida, ele também respondeu a questionamentos do público presente.

Após o intervalo, a programação seguiu com o depoimento do universitário Ayrton Cordeiro, ex menor aprendiz do TRT-ES, que atualmente cursa o sétimo período do curso de Direito. Ele, inclusive, foi selecionado pelo programa Ibero-americano do Santander em parceria com a Católica de Vitória Centro Universitário, para estudar por 6 meses na Universidade de Coimbra, em Portugal.

Ex-aprendiz - O jovem abordou sua trajetória como aprendiz, na qual se dividiu entre o Cesam (Centro Salesiano do Adolescente Trabalhador), com a parte teórica; e a 9ª Vara do Trabalho do TRT-ES, em que colocava todo seu conhecimento em prática. “O programa de aprendizagem desenvolve, dentro de suas tarefas, não só a parte do trabalho em si, mas a sua formação enquanto pessoa. Eu posso dizer que, depois desse período de aprendizagem, enquanto profissional, eu senti que tinha um diferencial nos processos seletivos que se sucederam”, destacou. “Traçando novos objetivos para os adolescentes hoje, com certeza, no futuro, eles serão pessoas que estarão galgando novos horizontes, estarão conseguindo bolsas de estudo e também poderão estar estudando em Universidades fora do país”, incentiva Ayrton.

O poder da indútria da pornografia infantil

Dando prosseguimento ao evento, a advogada, professora universitária e diretora-presidente do Instituto Liberta, Luciana Temer, palestrou sobre a “exploração sexual de crianças e adolescentes: a necessária mudança de cultura”. Ao iniciar, Luciana expôs o dado de que o Brasil é o segundo país do mundo com maior índice de exploração sexual de crianças e adolescentes e que, ainda assim, essa temática é pouco discutida por questões culturais. “O Brasil é o quarto país com maior índice de casamento infantil, ou seja, a naturalização da precocidade da inserção da menina neste mundo, é muito grande”, complementa.

A doutora Temer ainda alertou que esse é um problema presente em todas as partes do país, até mesmo nas grandes capitais e explicou como a internet propiciou uma espécie de anonimato aos que cometem a exploração sexual. “Quando você fala de exploração sexual hoje, você não está mais falando de uma cultura antiga e perversa que a gente vai superar. A gente está falando de dinheiro, a gente está falando de uma das empresas economicamente mais poderosas do mundo, que está manipulando todas as nossas mentes por meio da internet e a gente não está se dando conta disso”.

O futuro obscuro das meninas do Furo Tajapuru, em Melgaço – PA

Encerrando a tarde de palestras, a juíza do Trabalho, Elinay Ferreira, discutiu sobre “a exploração sexual de crianças e adolescentes submersa nas águas do Marajó: o caso das meninas do Furo Tajapuru, em Melgaço – PA”. No início de sua fala, a juíza exaltou a importância da educação em meio a este tema: “A gente não vai mudar essa realidade sem se educar. E a educação que nós vamos discutir aqui, não é só essa formal da Universidade, é educação sobre cidadania, para aquela pessoa compreender a plenitude de seus direitos, para ela poder reivindicar. Se ela não tem esse conhecimento, como ela vai saber que aquilo ali é uma violação de direitos?”, questiona.

Ao dar continuidade, a magistrada apresentou a realidade das adolescentes que são exploradas sexualmente ao subirem em balsas que trafegam o furo Tajapuru. A juíza ainda destacou o dever do Estado, da família e da sociedade em assegurar vários direitos as crianças, como o direito à vida, a saúde e a alimentação. “Se um Estado presente dá oportunidade de trabalho, dá escola, dá lazer, dá esporte... Será que vai ter tanta criança fazendo isso? Não! E qual é o nosso papel enquanto sociedade, mesmo que a gente esteja em um outro patamar e não esteja passando por isso? Eleger bons governantes, cobrar políticas públicas que modifiquem essa realidade. Todos nós temos responsabilidade dentro desse sistema”.

Acesse aqui alguns momentos do Seminário. 

 

 

 

 

Imprimir