Jovens concluem curso promovido pelo MPT-ES, TJ-ES e Secti

19 socioeducandos participaram do curso de edição de vídeo

Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes. Achar que essas mazelas me definem é o pior dos crimes, assim canta o rapper Emicida em parceria com as cantoras Majur e Pablo Vittar a canção que dá nome ao seu mais recente álbum AmarElo. Na letra, o rapper fala sobre o despertar diante de opressões e a conquista de novas possibilidades. A mensagem passada na canção reflete muito bem o objetivo do projeto “Escrevendo Novas Histórias”, iniciativa idealizada pela equipe técnica da 2ª Vara da Infância e da Juventude de Vitória em parceria com o projeto “Para além da medida”, de iniciativa da Procuradoria Regional do Trabalho (PRT) da 17ª Região, os quais oportunizam aos adolescentes socioeducandos acesso à educação e à profissionalização gratuita.

Na última sexta-feira, 6/12, mais uma turma concluiu um dos cursos oferecidos pelos projetos. Dessa vez, cerca de 19 adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas participaram do curso Edição de Vídeo. As aulas, ministradas pelo professor André Wallace do Nascimento, ocorreram entre os dias 21 de outubro 06 de dezembro no ED VII, do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE), na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A aplicação do curso só foi possível devido a uma parceria entre o MPT-ES, o Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo (TJ-ES), a Ufes, a Associação Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (GOLD) e a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional (Secti).

Foram quase dois meses de encontros, trocas e aprendizado. Dezessete meninos e duas meninas tiveram a oportunidade de aprender técnicas de edição e captação de vídeo. A estudante Virgínia*, que pela primeira vez teve contato com um curso de edição, já tem planos para depois de concluída essa etapa: “O curso ajudou a me expressar melhor, a me relacionar com as pessoas. Eu tenho planos. Acompanho alguns canais de youtubers e, como eu gosto de culinária, pretendo usar o que eu aprendi aqui para criar o meu próprio canal”, disse. Durante todo o curso, os estudantes ganharam uma bolsa remunerada, auxílio-transporte e lanche, suporte que incentivou a participação dos jovens.

Cinema Negro – A cerimônia de conclusão do curso de Edição de Vídeo, ocorrida na última sexta-feira, contou com a participação do jornalista e cineasta Adriano Monteiro, convidado a exibir o premiado curta-metragem “Guri”. O filme já esteve em diversos festivais, nacionais e internacionais, sendo premiado recentemente na 14ª Mostra Produção Independente – Resistências da Associação Brasileira de Documentárias e Curta Metragistas do Espírito Santo (ABD Capixaba). “Guri” levou o Prêmio Incentivo da mostra, “pelo olhar cuidadoso e corajoso com que trata a infância e pela excelente articulação da questão racial numa dramaturgia clássica”.

Após a exibição do filme, o cineasta abriu uma roda de diálogo com os adolescentes que refletirem sobre racismo e sobre a produção do curta-metragem. Alguns jovens compartilharam suas vivências acerca de situações discriminatórias já experienciadas por conta de sua cor de pele e classe social. Além das discussões sobre racismo, Monteiro relatou suas experiências com a pré-produção e produção do curta, incentivando os estudantes a também investirem na área cultural. “O poder público tem que estar mais sensível a apostar, é obvio, na educação e na cultura. Porque acredito que apostar nas políticas de cursos formais, é legal, mas precisamos ampliar o leque”, destacou o cineasta.

Instituições parceiras – Quando a Procuradoria Regional do Trabalho (PRT) da 17ª Região instaurou dois procedimentos promocionais para a implementação do projeto “Para além da medida: a profissionalização como um caminho para formulação de novos projetos de vida”, em 2018, decidiu destacar a natureza interinstitucional, preventiva e pedagógica da medida, voltada para permitir o acesso dos socioeducandos a diferentes espaços e a novas vivências. Por meio do projeto, seria realizada a articulação para implementação de cursos voltados aos interesses de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas, inicialmente em meio aberto (liberdade assistida), envolvendo os municípios da Grande Vitória.

A articulação iniciou-se em meados do ano de 2018, pela procuradora Sueli Bessa, que procurou a 2ª Vara da Infância e Juventude da Comarca de Vitória, o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) dos municípios de Vila Velha, Vitória e Serra, bem como a Casa Sol Nascente, também do município de Serra. Foi então que o novo projeto-piloto do MPT se aliou ao “Escrevendo Novas Histórias”, idealizado pela equipe técnica da 2ª Vara (setor de Psicologia e Serviço Social) no ano de 2016, e que começara a ser implementado pelo Tribunal de Justiça do Estado em 2017.

O projeto do TJ havia surgido com o objetivo de atender adolescentes e jovens autores de algum ato infracional ou que estivessem cumprindo medidas socioeducativas em meio aberto na Vara. No entanto, não havia recursos financeiros para o seu aprimoramento. O projeto-piloto do MPT veio, portanto, agregar outros elementos para resgate de cidadania dos adolescentes, bem como para compartilhar esforços a fim de ampliar as oportunidades oferecidas aos socioeducandos. Desde a implementação do projeto com a parceria das duas instituições, 170 adolescentes em cumprimento de alguma medida socioeducativa já foram contemplados com os cursos.

Confira algumas fotos:



 

Fotos: Ascom MPT-ES e Ascom TJ-ES  

10/12/2019

Texto com informações da edição n° 10 da Revista Labor

*O nome usado na matéria é fictício para proteção da identidade da entrevistada.

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